Aulamestra
9 April 2022

AULAMESTRA
CÍRCULOS DE MEMÓRIA E PERVERSÃO

Lyle Ashton Harris, Exfoliation, Ektachrome Archive, San Francisco, 1993

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PROPOSTA DO CURSO

Círculos de memória e perversão tece uma conversa em torno do que a palavra perversão emana. Trata-se de uma pesquisa sobre fotografia e infância lgbtia+ que explora os destinos possíveis dessa palavra. Talvez seja ela o maior vínculo entre as muitas imagens da dissidência. Um vínculo seco, puído, moralizador, fabricado através de uma palavra extremamente fértil. Que beira a violência e o prazer. Que quase não pode ser usada sem censura. Que extirpa da infância a inocência e provoca uma ideia de desvio. Que também é subversão. A fotografia da perversão é às vezes a imagem do nosso afeto, do nosso corpo, é o nosso rosto real. Como reescrever a nossa história por cima das imagens que fizeram de nós. Como perverter a linguagem para que ela se pareça com a nossa vida.

Acompanho uma seleção de mais de 110 trabalhos em fotografia e cinema para entender como se constróem as autobiografias dissidentes. Como fizemos para conceber a nossa história a despeito dos regimes heterossexistas, das subjetividades encarceradas e dos vários processos de mutilação narrativa. A intenção das aulas é também conhecer as poéticas de artistas que à sua maneira encontraram um vocabulário visual.  

As aulas se parecem muito com um diário. Devo me colocar vulnerável, contar como a fotografia entrou na minha vida e como a linguagem foi aos poucos possibilitando a minha existência. A infância desviante, especialmente, é uma vertente ainda pouco confrontada dentro dos cursos de fotografia. Como as artistas lgbtia+ escolheram contar sobre quem foram e como as novas iconografias surgem. A fluidez das identidades e da própria imagem. É preciso falar de gênero e fotografia. De sexualidade e fotografia. De relações sociais e fotografia. Na realidade, é preciso produzir tudo isso antes de fotografar, produzir gênero, sexualidade e relações. A história dos círculos é de legado e vida. Um pensamento sobre autobiografia dissidente na fotografia contemporânea.

Catherine Opie, Self Portrait / Nursing, 2004

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METODOLOGIA

O programa prevê 7 aulas virtuais que serão dadas através da plataforma Zoom. Cada aula terá 2 horas de duração. As aulas serão gravadas e ficarão disponíveis por 2 semanas no Google Drive.

O conteúdo da Aulamestra foi desenhado para formar um sistema vivo, cheio de interligações entre si, compondo um mapa mental que será percorrido durante as aulas. Ao total, 12 círculos e 4 réguas contém as fotografias, vídeos, textos e links que serão explorados por nós.

A escolha por uma constelação nasce, principalmente, na necessidade de organizar os trabalhos em temas subjetivos e não limitá-los a eles. Slides lineares não ofereceriam essa visão panorâmica e fluída. E, apesar da paisagem aberta, sou capaz de aproximar nos detalhes de cada fotografia, afastar, reproduzir em tela cheia, tudo que for necessário.

As aulas são organizadas da seguinte forma: serão dois círculos por aula. Os círculos giram no sentido anti-horário. Sou capaz de ir e voltar até algum círculo de aulas futuras ou passadas para pequenos apontamentos. Essa viagem enriquece a nossa metodologia e gera um maior controle e liberdade sobre o rumo das nossas conversas. Ao final, chegaremos nas réguas no lado direito do mapa, onde estão os trabalhos autorais, assunto da nossa última aula.

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Bowei Yang, Aggregation of dreams, conversation about the collective identity, da série “If Spring Could Feel Ache”, 2019

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CONTEÚDO

1° encontro: 
Círculo 1 – Claude Cahun e Marcel Moore
Introdução à perversão. Vida e obra das duas artitas. A colaboração no universo queer.
Surrealismo e inauguração de linguagem.
Círculo 2 – O não limite do gênero + A série-ensaio
Introdução ao estudo do filme-ensaio. O equilíbrio entre o confessional e o documental.
Pensamentos sobre Robert Bresson.

2° encontro: 
Círculo 3 – A terceira fila, memória da ilegalidade
Autobiografia dissidente. A perversão e a perversidade são pai e mãe da nossa memória.
Tornar-se visível.
Círculo 4 – Água viva
Trabalhos de artistas lgbtia+ que lidam com a água e porque esse elemento nos representa.

3° encontro: 
Círculo 5 – Fotojornalismo e imperialismo
A fotogrfia não-extrativa, não-exploratória e não-dissociativa proposta por Ariella Azoulay e
outras pensadoras.
Círculo 6 – Retomada da história ou Vertóva: uma corpa com uma câmera
Uma seleção de trabalhos que reescrevem, reinventam ou restituem a história do mundo no
ponto de vista lgbtia+, mas não só.

4° encontro: 
Círculo 7 – Corpo histórico
Reconhecimento do legado e famílias dissidentes. Fortalecimento de uma linguagem
múltipla. Qual pode ser o papel da fotografia?
Círculo 8 – Idílico
Fotógrafos que abordam as questões de guetos, retiros queers e lugares utópicos.

5° encontro:
Círculo 9 – A ressignificação é erótica
O corpo, o sexo e o afeto como artifícios para a reafirmação da identidade. Seleção de
trabalhos que focam no corpo.
Círculo 10 – Uma ruína para a palavra amor
Uma seleção de trabalhos que falam sobre o amor romântico e os seus apagamentos.

6° encontro:
Círculo 11 – Infância na fotografia dissidente
Uma seleção de fotografias e performances que abordam a infância dissidente de diferentes
formas.
Círculo 12 – Família segundo o olhar dissidente
Uma seleção de fotografias sobre as construções familiares.

7° encontro: 
Trabalho autoral
Régua 1 
– Eu te abraço antes de dormir 
Régua 2 – Tornaras, bromeliotes e acolhos 
Régua 3 – Feita no paraíso
Régua 4 – Foto-instrução para corpos com dismorfia leve
Régua 5 – GH, Gal e Hiroshima
Régua 6 – Nunca Fotografaríamos

Matthew Leifheit, Wave (Hudson and MeHow), 2018.

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PÚBLICO ALVO

Fotógrafes, artistas visuais, pesquisadores, historiadores e pessoas interessadas no campo da imagem fotográfica e nas autobiografias dissidente de gênero.

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NOVAS DATAS E DÚVIDAS

E-mail: rodrigomasinap@gmail.com
Instagram: @masinapinheiro